por Ulisses Capozzoli
Com a avalanche de más notícias nas últimas semanas, incluindo chuvas destruidoras em boa parte do país, e sinais de recrudescimento da crise econômica, especialmente entre recém chegados à União Européia, momentaneamente se perde uma visão mais global dos acontecimentos.
Na vida apressada do cotidiano, cada um se restringe a resolver problemas mais imediatos. E só com questões dessa natureza minimamente encaminhadas é possível retomar considerações mais amplas, indispensáveis e com impactos na vida de cada um, ainda que sem sempre seja possível se dar conta disso num primeiro momento.
Nos Estados Unidos, como parte do rearranjo econômico, o presidente Barack Obama optou por um corte de verbas no programa de exploração espacial o que significa, entre outras coisas, um adiamento do projeto de retorno à Lua.
É possível que uma parcela razoável da opinião pública internacional concorde que investir na exploração do espaço neste momento não é, por muitas razões, uma iniciativa prioritária.
O fato, no entanto, é que, prioritária ou não, neste momento, o corte de verbas nesta área de muitas maneiras afeta o presente e o futuro e isto em escala global.
A história tem sua própria e surpreendente dinâmica intrínseca. O corte de verbas para a agência espacial americana pode, entre outros efeitos, permitir que o apetite da China, e em menor escala da Índia, seja ampliado neste segmento científico/industrial.
Mesmo internamente, no caso dos Estados Unidos, iniciativas privadas podem suprir, ao menos em parte, o que antes era tocado com verba governamental.
Mas há, de muitas maneiras, a possibilidade de que o balde de água fria de Obama nas iniciativas americanas no espaço impactem negativamente avanços que, de muitas maneiras, são fundamentais neste estágio da civilização humana.
Questões ambientais, por exemplo, só podem ser adequadamente desvendas e eventualmente encaminhadas a partir de uma visão conjunta de como evoluíram outros planetas do Sistema Solar, especialmente Marte e Vênus, chamados planetas telúricos e por isso mesmo primos próximos da Terra.
A compreensão do ciclo de nascimento e evolução das estrelas, o que demanda a utilização de astronáutica e ciência de detecção de ponta, acena com a conquista de uma nova era quanto à oferta de energia, compreensão da natureza da matéria (não mais que 6% da matéria do Universo seria a chamada matéria convencional que, entre outras características, interage com a luz).
Um processo de ocupação da Lua, eventualmente para a segunda metade deste século, quando também teria início o embrião do povoamento de Marte para muitos pode soar como pura ficção científica.
A questão, no entanto, é que para qualquer direção em que se possa olhar neste momento, quase tudo sugere ser fruto da ficção. Ao menos para o que parecia ficção há duas ou, no máximo, três décadas atrás.
Mesmo um país como o Brasil, e nisto não se enganem os formuladores de lógica fácil, não pode nem deve abrir mão de um promissor projeto espacial. Por muitas e versas razões, tanto em retornos diretos quanto indiretos.
De agricultores a turistas em férias, passando por encarregados de obras de infraestrutura, todos desejam receber uma previsão confiável quanto às condições de tempo: se vai chover, fazer sol e quanto tempo cada uma dessas situações pode durar.
Mas isso depende de plataformas espaciais, os satélites de observação da Terra, entre outras conexões impensáveis para a maior parte desses consumidores.
Verdade que, neste momento, poucos previsores se arrisquem a dizer o que deve ocorrer no futuro imediato, algo como semestre seguinte ou mesmo até o fim do ano.
A única coisa com que não se deve perder tempo é com previsões catastrofistas como o fim do mundo em 2012, tema escandalosamente explorado em filmes de péssima qualidade, mas que podem render lucros a exploradores inescrupulosos.
A retração da exploração espacial, no entanto, se nada compensar o retrocesso que deve ocorrer no programa americano, significa, no mínimo, uma preciosa perda de tempo quanto a conquistas que, num determinado momento, poderiam revelar-se como de importância vital.
Até mesmo para a sobrevivência da humanidade, embora isto também possa soar como pura ficção científica.
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1 comentários:
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