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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Achado 1º planeta possivelmente habitável

Astrônomos anunciaram a descoberta do primeiro planeta no qual existe a possibilidade para o desenvolvimento de vida.

Após 11 anos de análises do Observatório W. M. Keck, no Havaí, um dos maiores telescópios ópticos do mundo, uma equipe de cientistas da Universidade da Califórnia e do Instituto Carnegie de Washington anunciou a descoberta de dois novos corpos ao redor da estrelas, sendo um deles na chamada "zona habitável".

O Gliese 581g é um exoplaneta, assim chamado porque orbita uma estrela que não o nosso Sol.

Sua órbita tem pouco menos de 37 dias e sua massa é de três ou quatro Terras, o que indica se tratar de um planeta rochoso, com gravidade o suficiente para que as coisas fiquem na atmosfera. Seu diâmetro é de 1,2 a 1,4 vezes o do nosso planeta.

A distância do exoplaneta para seu sol permite a existência da água em estado líquido na superfície. Se confirmada, essa descoberta faria do Gliese 581g o local mais parecido com a Terra já encontrado e o caso mais forte de local potencialmente habitável.
Vale dizer que, para os astrônomos, "potencialmente habitável" é um local que pode ter vida, e não necessariamente um no qual humanos sobreviveriam. A "habitabilidade" depende de muitos fatores, mas ter água liquida e uma atmosfera estão entre os principais.

Dias e noites eternos

Os dois novos exoplanetas descobertos orbitam uma estrela anã-vermelha a apenas 20 anos-luz da Terra, na constelação de Libra, chamada, justamente, Gliese 581. No total, agora são seis os planetas conhecidos ao redor do astro todos com órbitas quase circulares.

Dois de seus planetas estão na chamada "borda" da zona habitável. O planeta "c", pendendo para o lado quente (próximo demais à estrela), e o planeta "d", do lado frio (longe demais do astro). Alguns astrônomos acham que este último poderia ser habitável, pois tem uma atmosfera espessa com efeito estufa suficiente para aquecê-lo. O recém descoberto planeta g, no entanto, está bem no meio dessa zona habitável.

No entanto, ele tem uma característica curiosa: sua orbita presa á da estrela. Assim, um lado do Gliese 581g está sempre voltado para seu sol, enquanto o outro está sempre no escuro. A zona mais habitável do exoplaneta seria exatamente a linha do meio, entre o dia e a noite.

A pesquisa foi patrocinada pela NASA e pela National Science Foundation.

domingo, 26 de setembro de 2010

A bolha de sabão em números

No século 19, o ale-mão Karl Weierstrass (1815-1897) conseguiu seu título de doutor honoris causa por desenvolver uma série de ferramentas matemáticas e dar maior rigor às provas de teoremas. Ele já tinha passado dos 40 anos, idade considerada tardia para descobertas matemáticas, e lecionava havia 14 anos no ensino secundário quando publicou seus trabalhos e foi reconhecido como um grande talento matemático. Logo em seguida, recebeu vários convites e escolheu lecionar na Universidade de Berlim. Sua fama de excelente professor atraía estudantes de todas as partes do mundo.


Os trabalhos de Weierstrass foram aplicados muito tempo depois pelo matemático brasileiro Celso Costa, da Universidade Federal Fluminense, que tentava descobrir em seu doutorado uma nova figura geométrica. Para chegar a ela, usou os estudos, particularmente funções, desenvolvidas pelo matemático alemão. O que Costa buscava era algo que vinha movimentando pesquisadores de todo o mundo por 200 anos: descrever matematicamente a forma de novas superfícies mínimas.


A idéia surgiu no começo dos anos 80, quando o brasileiro estava no cinema. "Eu assistia a um filme sobre escola de samba e um sambista desfilava com um bizarro chapéu de três abas. Naquele momento tive a inspiração crucial e final do modo como a figura geométrica da superfície que eu buscava se apresentava no espaço." No século 18, quando tiveram início as pesquisas sobre esse tema, foram descritas três superfícies mínimas: o plano, o catenóide e o helicóide (veja ilustração acima). Depois disso, ninguém descobriu mais nenhuma.



Alexandre Camanho



O material utilizado nos primeiros trabalhos era a película de sabão, que acabou sendo útil para a construção da teoria matemática sobre essas superfícies.E aquela mistura de água com sabão e a argola que se usa para soltar bolhas no ar ainda pode ser usada para explicar o que são superfícies mínimas. A película que se forma na argola antes que ela seja movimentada no ar é a primeira das superfícies mínimas: o plano. A segunda (catenóide) é obtida quando assopramos a argola e a película forma um bojo, antes de chegar a se fechar em bola. Devemos imaginar que a borda inicial formada pela argola seja mantida, ou seja, a superfície é limitada pelas duas bordas e vazada. A terceira (helicóide) é obtida se deformarmos a argola em forma de hélice. As formas que a película vai adquirir no espaço são as superfícies mínimas, ou as superfícies de menor área que cobre um determinado bordo (nesse caso, a argola).



A nova superfície descoberta em 1982 por Costa, (figura ao lado) que levou seu nome, teve grande repercussão no mundo da matemática por resolver um problema antigo. Muitos matemáticos tentavam provar a existência (ou não) de superfícies como a do brasileiro. Além disso, a partir dela, foi possível desenvolver técnicas que permitem hoje a solução de muitos outros problemas na área de superfícies mínimas. O trabalho acabou dando origem a uma série de pesquisas que resultaram na descoberta de novas superfícies, teoremas e novos problemas matemáticos.



Para cada superfície mínima existem equações que geram o objeto em três dimensões. Para as três primeiras figuras descobertas no século 18, as equações eram relativamente simples e facilmente relacionáveis com o objeto em 3D. Mas as equações da superfície Costa já apresentam muitas complicações para a visualização da figura em três dimensões. Então, a partir da descoberta do brasileiro, Hoffman e Meeks, dois americanos da Universidade de Massachusetts, fizeram a imagem computacional exata da superfície. Posteriormente, a descoberta do brasileiro acabou influenciando também o desenvolvimento da computação gráfica.



A superfície Costa tem a forma de um toro - como as bóias do tipo pneu que os banhistas usam para flutuar nas piscinas - com três buracos. Depois de visualizada por computador, foi a vez dessa curiosa superfície geométrica inspirar vários artistas pelo mundo, que acabaram ganhando prêmios com esculturas da superfície Costa, seja em material permanente - metal ou concreto - ou em blocos de gelo nos festivais de inverno dos países frios.

Fonte: Revista Galileu

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Pista para a gravitação quântica

Grupo de físicos brasileiros desenvolve um meio de reproduzir em laboratório os efeitos da gravitação quântica presente em buracos negros. Artigo acaba de ser publicado na Physical Review Letters (Nasa)
A medição direta de efeitos de gravitação quântica é praticamente impossível. Os motivos são que eles têm origem em locais inacessíveis ao homem, como em buracos negros, e seus efeitos são extremamente sutis.
Mas um grupo de físicos brasileiros desenvolveu um meio de se estudar indiretamente um desses fenômenos, a flutuação da velocidade da luz, por meio de experimentos de propagação ondas acústicas em fluídos com aleatoriedade, como em coloides, líquidos heterogênios que contêm partículas ou moléculas de diferentes tamanhos em suspensão - o leite é um exemplo.
O trabalho foi realizado por Gastão Krein, do Instituto de Física Teórica (IFT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Nami Svaiter, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), e Gabriel Menezes, pós-doutorando da Unesp. Os resultados foram publicados no dia 20 de setembro na revista Physical Review Letters.

"Em uma conversa que tivemos com Svaiter, surgiu a ideia de que a propagação do som em fluidos coloides poderia apresentar efeitos simililares aos da luz em ambientes nos quais a gravitação quântica seria relevante", disse Krein à Agência Fapesp.

Menezes foi o elo entre Krein e Svaiter. Atualmente com Bolsa de Pós-Doutorado da Fapesp, orientado por Krein, Menezes foi orientado por Svaiter no CBPF em seu doutorado.

O encontro entre os físicos foi importante para a concepção da pesquisa, uma vez que Krein tem larga experiência em estudos com equações com flutuações aleatórias e Svaiter é especialista em gravitação quântica, tendo desenvolvido estudos de seus efeitos com Lawrence Ford, da Universidade Tufts, nos Estados Unidos.
Flutuações em um fluido podem ser clássicas ou quânticas. O artigo demonstra a validade de se usar microvibrações em coloides como plataforma para estudo da gravitação quântica. Segundo o estudo, os dois fenômenos são descritos por equações matemáticas similares.
Se estudos com coloides são comuns e conhecidos, o mesmo não se pode dizer do segundo fenômeno. Um dos feitos da gravidade quântica é que velocidade da luz não é uma constante, como ensina a física clássica, mas flutua de um ponto a outro devido aos efeitos quânticos. Estima-se que esse tipo de gravidade esteja presente em buracos negros e tenha vigorado durante o Big Bang.
Outros experimentos com fluidos já haviam sido propostos para estudar efeitos de gravidade quântica, mas o brasileiro é o primeiro a contemplar o estudo das flutuações da velocidade da luz através da flutuações da velocidade de propagação de ondas acústicas em fluídos.

Segundo Krein, o mérito da pesquisa foi ter apontado um meio de simular em laboratório um fenômeno de observação muito difícil. "O comportamento das ondas acústicas ao se propagar em um meio aleatório, como os coloides, permite trazer a um laboratório efeitos análogos aos da gravitação quântica", disse.

Radiação Hawking

Krein e colegas pretendem investigar, por meio de modelos com fluidos, o equivalente a um buraco negro e como vibrações acústicas quânticas são criadas e destruídas próximos a essas formações no espaço.
Os físicos buscam compreender melhor o fenômeno conhecido como "radiação Hawking", prevista em 1973 pelo físico inglês Stephen Hawking. Segundo Hawking, os buracos negros encolhem com a perda de energia por meio dessa radiação.
Krein, Svaiter e Menezes procuram também grupos experimentais de pesquisa que investiguem fluidos e se interessem em fazer experimentos nessa área.
"Com um fluido, podemos controlar parâmetros do experimento, como a densidade e a concentração das partículas em suspensão, e, com isso, aprender como muda a propagação do som de maneira controlável no laboratório. Isso permitirá construir correlações dos resultados com o que ocorre na gravitação quântica", disse Krein.

Fonte: Jornal da Ciência

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Incríveis passatempos matemáticos - Ian Stewart

“O presente ideal para quem é viciado em jogos como Sudoku e começa a se perguntar o que está por trás disso.”
Spectator

Qual a área de um ovo de avestruz? Por que não conseguimos pentear uma bola cabeluda? Por que os gatos sempre conseguem cair de pé? Em Incríveis passatempos matemáticos, o professor Ian Stewart oferece aos leitores curiosidades divertidas – e às vezes um tanto excêntricas – sobre a matemática, com uma grande dose de desafios, jogos, charadas e histórias tirados de sua coleção particular. São descobertas e mistérios inesperados e inteligentes que não se ensinam na escola. Stewart entremeia os desafios com incursões pelo pensamento matemático antigo e moderno, anedotas sobre cientistas e perguntas sobre os grandes problemas matemáticos do presente, do passado e do futuro. Em meio a uma enorme variedade de fatos obscuros e impressionantes, aprende-se como a matéria entra em equilíbrio com a antimatéria, os segredos do debate acerca do aquecimento global, como virar uma garrafa do avesso e quem inventou o sinal de igual. 
Essa coletânea de pérolas matemáticas, repleta de figuras explicativas, mostra de forma fascinante a relação que essa ciência tem com nossa vida e nosso Universo. A mais nova diversão produzida por Ian Stewart é capaz de esclarecer, distrair e abrir horizontes – tanto para os mais habituados com o assunto quanto para os novatos.

IAN STEWART é um dos mais famosos matemáticos contemporâneos, aclamado por difundir essa disciplina e torná-la acessível. Professor emérito da Universidade de Warwick, Inglaterra, é conhecido no mundo todo pela coluna que assina mensalmente na  Scientific American e por seus artigos nas revistas Nature e New Scientist, além de ser consultor de matemática da Enciclopédia Britânica. É autor de inúmeros livros, com destaque para  Será que Deus joga dados?, Mania de matemática  (vols.1 e 2) e  Almanaque das curiosidades  matemáticas, publicados no Brasil pela Zahar com enorme sucesso.


356pp | R$39,90
Ilustrado
Revisão técnica: Samuel Jurkiewicz
Coppe-UFRJ
Tradução:Diego Alfaro

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Matemático brasileiro ganha prêmio Balzan, de R$ 1,28 milhão

O matemático brasileiro Jacob Palis Júnior, do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), no Rio de Janeiro, recebeu nesta segunda-feira (6) o prêmio Balzan por seus estudos na área de sistemas dinâmicos. Sistemas dinâmicos servem para modelar muitos fenômenos da natureza e de atividades socioeconômicas, partindo da premissa pela qual pequenas alterações em um sistema podem gerar grandes transformações.


Ele vai receber 750 mil francos suíços, o equivalente a R$ 1,28 milhão. O prêmio será entregue no dia 19 de novembro em um cerimônia em Roma.

Palis Júnior é graduado em matemática pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1962), mestre e doutor pela Universidade da Califórnia. Professor do IMPA desde 1971, doi diretor do instituto de 1993 a 2003.

O brasileiro divide o Balzan com o biólogo japonês Shinya Yamanaka, que descobriu um método para dotar células adultas de certas características das células-tronco. O cientista, que trabalha nas universidades de Kyoto e da Califórnia, tem aplicado suas descobertas à tentativa de reparar lesões da medula espinhal de cobaias.

O historiador italiano Carlo Ginzburg, referência da escola batizada de “micro-história” (o resgate histórico a partir da trajetória de indivíduos comuns) e o alemão Manfred Bauneck, que pesquisa a história do teatro europeu, também foram premiados.

A Fundação Internacional Balzán, com sede em Milão e Zurique, busca todos os anos destacar áreas emergentes de pesquisa e assim contribuir para o desenvolvimento de campos de estudo que são comumente ignorados. A instituição foi criada pela família do jornalista italiano Eugenio Balzan.



                                              Palis Junior é presidente da Academia Brasileira de

                                            Ciências e da Academy of Sciences for the

                                                          Developing World (TWAS)

                                              (Foto: arquivo pessoal via Currículo Lattes)

Fonte: G1

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Clave de Pi, literalmente

Olá pessoal,

Estava navegando na web e achei esse "joguinho" muito interessante.
O nome é pi10k, e para jogar você escolhe 10 notas, em um teclado virtual. Após a escolha, clique em "Begin", e o programa irá associar cada nota a um digito do número pi.
Não entendeu? Explicarei melhor:

Por exemplo, a primeira nota é Dó, a segunda Ré, a Terceira Mi... até a Décima Mi (oitavada). A primeira nota equivale ao digito 1, a segunda ao 2 até a décima 0. Sendo assim, o valor de pi (os primeiros dez digitos): 3,141592653 - a ordem das notas será: Mi (3), Dó (1), Fá (4)... e assim vai. O programa consegue computar sequências de notas até o dígito 10000 (por isso eu acho que o nome - pi10k- o "10k" refere-se a 10000, sendo k=1000).

É muito interessante, pois cria melodias aleatórias, mas, com o padrão do número pi, que não tem padrão.
Perdi um tempão brincando de sequênciar as notas.

E aproveitando, lanço um desafio: Alguém consegue fazer as primeiras 10 notas serem da música "Parabéns pra Você"? - Eu consegui. Durou menos de cinco segundo,mas, fiquei animadíssimo (risos).

Acesse o jogo no link abaixo:

http://www.avoision.com/experiments/pi10k/index.php

Clave de Pi - "O conhecimento é a harmonia da vida."

Os Animais são Naturalmente Musicais?

Por Christine Kenneally:


Que tipo de música os macacos mais gostam? Se esta questão algum dia já perturbou você, junte-se ao ex-DJ de casas noturnas, obsessivo colecionador de gravações musicais e cientista da cognição Josh McDermott. Ele gastou 15 meses tentando responder a esta pergunta, através de testes com o Sagüi Cabeça de Algodão e outras espécies de sagüis comuns. Tentou perceber se os macaquinhos preferiam uma canção de ninar Russa bem tranqüila ou trechos de uma música Techno alemã chamada: Nobody Gets Out Alive (Ninguém Sai Dessa Vivo). Ele também ofereceu aos animais uma escolha entre canções de ninar instrumentais, uma canção de ninar cantada, um Concerto de Mozart, ou o silêncio. Ele ainda os sujeitou a uma massa de sons dissonantes, para testar a reação dos animais.

Você pode imaginar que macacos não são assim tão diferentes dos humanos, mas se pensa que eles possuem gostos musicais parecidos com os nossos, ficará surpreso com o que McDermott, agora situado na Universidade de Minnesota, Minneapolis, e o seu colega da Universidade de Harvard, Marc Hauser, descobriram. Certamente, você pode até compartilhar com os macacos a preferência pela canção de ninar flauteada, ao invés da "Nobody Gets Out Alive", que é uma metralhadora de percussão e efeitos sonoros sintéticos esquisitos. Mas a escolha deles, dentro de um espectro mais amplo de músicas suaves, é bem diferente. Diferentemente dos humanos e sua variedade de escolhas, os macacos sempre preferem o silêncio a qualquer tipo de música. O mais inexplicável de tudo é a descoberta de que os macacos não sabem as diferenças entre tons melódicos e vários sons dissonantes que, para a maior parte das pessoas, seriam considerados uma forma de tortura.

Essas experiências, dizem McDermott e Hauser, mostram que as motivações fundamentais encontradas pelos humanos na música, não existem nos macacos. Comentando as descobertas, Isabelle Peretz, uma neuropsicóloga da Universidade de Montreal, Canadá, sugere que "apenas os seres humanos têm uma inclinação natural e inata em atribuir valor à música". Será que isto é verdade?

A perspectiva de Peretz está enraizada em uma longa tradição que atribui unicidade com respeito a tudo o que se refere à musicalidade humana – não apenas ao nosso gosto sonoro, mas também como a música soa para nós, como nós a percebemos ou mesmo como a construímos.

Propositores deste ponto de vista argumentam que a instrumentação musical humana é inigualável. Dizem que a extravagante variedade de meios pelos quais os seres humanos se expressam musicalmente não encontra comparações com qualquer outra espécie – usamos música para vender coisas, adorar a Deus, motivação pessoal ou por puro prazer, enquanto que mesmo um virtuoso pássaro canoro canta apenas por sexo ou para marcar seu território. Sob este ponto de vista, a música de outros animais, mesmo que coincidentemente parecida com a humana, é de fato nada mais do que um som servindo a uma função biológica específica. As descobertas de McDermott, aparentemente, encaixam-se nesta perspectiva.

Entretanto, alguns especialistas começam a questionar os ortodoxos. Sem dúvida, uma quantidade crescente de evidências sugere que a musicalidade humana não é assim tão especial e que, mesmo as espécies que desenvolveram uma musicalidade sem relação com os primatas, possuem vidas musicais ricas, permitindo-nos que aprendamos mais sobre a natureza e a origem da música se apenas nos sintonizarmos com elas.

O que é uma Canção?

Um dos primeiros pilares do conhecimento musical a cair foi a idéia de que apenas os humanos apreciassem a melodia. A maioria de nossas músicas é criada a partir de um grupo finito de notas que abrange uma oitava. Seja qual for a escala, notas são combinadas e recombinadas em padrões que chamamos de melodia. Quando ouvimos musica, o padrão de notas numa melodia é mais importante do que seu tom absoluto – sempre reconheceremos uma mesma melodia familiar, seja ela cantada por um adulto ou por uma criança. Pesquisadores musicais têm suspeitado que esta habilidade crucial fosse única em humanos, e alguns experimentos supostamente provaram isso. Pesquisadores descobriram que se uma canção fosse tocada para um estorninho, um pássaro mandarim ou pombos e depois fossem transcritos em uma oitava acima ou abaixo, as aves não ouviriam a mesma canção. Ao invés disso, aparentemente ouviam dois grupos diferentes de tons absolutos. Da mesma maneira, macacos capuchinhos que aprenderam a pegar sua comida após o som de uma canção, não reconheceram a sua "música de comida" se esta era transposta em uma oitava.

Em 2001, entretanto, um estudo de Anthony Wright e colegas da Universidade de Medicina do Texas, em Houston, colocaram essas descobertas em cheque. Descobriram que Macacos Rhesus eram capazes de reconhecer melodias transpostas em uma oitava inteira, sem grandes dificuldades – mas apenas quando eram submetidos à musicas infantis, como "Parabéns a Você", caracterizadas por fortes transições tonais. Quando Wright submeteu os macacos à músicas com melodias fracas, descobriu que os macacos não eram capazes nem de se lembrar das canções, quanto mais executar transposições. Experimentos anteriores, aponta Wright, usaram músicas atonais ou mesmo notas sem qualquer melodia, o que poderia explicar os resultados contraditórios. Aparentemente, pelo menos neste sentido, nossa habilidade musical não é tão diferente dos primatas, já que também temos certa dificuldade em reconhecer musica atonal, se ela se move para cima ou para baixo, na escala.

Também não estamos sozinhos na apreciação da essência de estilos musicais diferentes. Ava Chase, do Instituto Rowland, Na Universidade de Harvard, em Cambridge, Massachusetts, tem demonstrado que as carpas podem saber a diferença entre música barroca e a música de John Lee Hooker, pressionando um botão com seus focinhos para diferenciar uma da outra. As carpas nem mesmo usam sons para sua comunicação, mas são reconhecidas por sua sensibilidade auditiva. Pardais da Ilha de Java podem não apenas distinguir entre Bach e Schoenberg, mas, como descobriu Shigeru Watanabe, da Universidade de Keio, no Japão, podem aplicar o que aprenderam sobre as diferenças entre música erudita e as músicas mais modernas, para diferenciar as belas melodias de Antonio Vivaldi e os sons mais tensos da musica atonal de Elliott Carter. Ao contrário dos macacos de McDermott, os pardais de Watanabe aparentemente demonstraram se envolver com a música, mostrando claras preferências pelos trechos mais belos e harmoniosos e escolhendo ouvi-los em vez de ficarem sentados em silêncio.

Estudos de espécies que fazem música, ou algo enganosamente semelhante a ela, também apostam na idéia da existência de criatividade musical fora de nossa própria espécie. Pássaros canoros, por exemplo, arranjam e rearranjam grupos específicos de notas para montar frases ou longos temas, semelhantes às nossas melodias. Alguns também variam ritmos, assim como a altura, das mesmas maneiras que fazemos.

Os sons de Baleias Jubarte aplicam os mesmos princípios que usamos. Combinam frases com 15 segundos de duração e constroem temas com cerca de 2 minutos. Finalizações fraseológicas podem corresponder, ritmicamente, com as rimas em nossas letras. Uma variedade de temas que podem fazer uma música de talvez 12 minutos de duração, que pode ser repetida várias vezes. O maior ciclo musical gravado de uma Baleia durou 21 horas.

A "musica" da foca é a mais estranha para os ouvidos humanos, se é que o seu som pode ser chamado de canção, segundo Tecumseh Fitch, um especialista em bioacústica, da Universidade de Saint Andrews, no Reino Unido. A vocalização complexa das "verdadeiras" focas e morsas inclui vibrações, cliques, raspas, grunhidos e um "marcante som parecido com um sino", diz o especialista.

Aves, baleias, focas e humanos compartilham não apenas canções complexas, mas a habilidade de aprendê-las – não são apenas pré-programados para produzir sons musicais de acordo com uma marca de tempo genética, como são muitos animais. Isso lhes confere uma criatividade adicional. Da mesma forma que grupos humanos possuem diferentes tipos de tradição musical, diferentes grupos de baleias possuem dialetos próprios, e é possível para uma influenciar o gosto das outras. Tem sido documentado mais de uma vez que um grupo social de baleias irá abandonar suas canções características em favor de sons novos de um grupo social estranho.

Todo esse debate nos deixa com uma difícil interrogação sobre a finalidade da música. Aqueles que argumentam em favor da unicidade da música humana dizem que a criamos por intermináveis e incontáveis motivos, enquanto que os animais cantam apenas em alguns contextos determinados e específicos. O canto de um pássaro é exclusivo aos machos e seu único propósito é seduzir sua parceira e proteger o território. Semelhantemente, baleias somente cantam em zonas de reprodução em uma época específica do ano. Mais ainda, animais nunca cantam para eles mesmos, enquanto que humanos podem sentar sozinhos e murmurar, cantar, batucar um bumbo ou dedilhar uma guitarra por horas a fio.

O argumento contrário sustenta que não há diferença absoluta entre seres humanos e outros animais, isto seria apenas uma questão de perspectiva. De acordo com Fitch, limitações da música humana são subestimadas e aquelas existentes na música dos animais são freqüentemente superestimadas. Sexo, vínculo social e competição podem não ser a explicação de toda a música humana, mas certamente motivam muito dela. Mais ainda, uma quantidade substancial da música humana tem uma aplicação específica – pense na marcha nupcial, músicas fúnebres, hinos dos times de futebol e músicas parecidas. Com relação ao mundo animal, baleias foram ouvidas fora dos seus locais de reprodução, e algumas vezes aves são ouvidas vocalizando suavemente para si mesmas, em algo que se parece incrivelmente com os ensaios musicais humanos. Da mesma forma, não são apenas os pássaros canoros machos que cantam – em algumas espécies, machos e fêmeas até fazem duetos. E assim como não há dúvida de que o canto destes pássaros é usado para a comunicação com parceiros e rivais, sabe-se que ele possui outros papéis. O canto pode ser usado como senha ou como vínculo social para um grupo de animais. "Mesmo no escopo de uma única espécie, o canto funciona de diversas maneiras", diz Fitch.

O Princípio do Prazer.

Então, o que dizer sobre a afirmação de que somente os seres humanos se deleitam da música? Sem contar o prazer perverso que sentimos ao ouvir melodias melancólicas, provavelmente a razão mais importante para que nos interessemos pela música é porque ela nos proporciona uma sensação de bem estar. Monitoramentos cerebrais mostram que a sensação de euforia proporcionada pela audição musical é acompanhada por atividades nas mesmas áreas cerebrais que respondem às gratificações geradas pela comida, pelo sexo e pelas drogas psicotrópicas. Robin Dumbar, da Universidade de Oxford, tem estudado as maneiras como o canto em grupo e o toque de tambores fazem as pessoas se sentirem. "A atividade musical parece produzir cargas de endorfina, as quais presumimos que produzem em você a excitação em participar dessas atividades que, fora de contexto, pareceriam estranhas", ele diz.

Claro que não podemos perguntar a um animal como ele está se sentindo, mas alguns pesquisadores argumentam que pássaros somente cantam quando seus níveis hormonais estão altos, implicando na noção de que eles não seriam nada mais do que autômatos alados capazes de fazer sons. Fitch, por sua vez, não está convencido. "Pássaros cantam, provavelmente, porque isso os faz se sentirem bem – cumprir os impulsos biológicos geralmente faz com que os seres vivos se sintam bem", ele diz. Ele traça um paralelo entre o sexo e os motivos pelos quais o fazemos. "A razão crucial é a produção de descendentes, e isto é, definitivamente, parte da história", ele diz. "Porém, também o praticamos porque faz com que nos sintamos bem. Esta é uma motivação válida! Fazemos sexo com maior freqüência quando nossos níveis hormonais estão altos, e menos quando estão baixos – isso também é um motivo".

A perspectiva de que os pássaros têm prazer em cantar é sustentada por um estudo publicado em 2006 por Erich Jarvis e colegas do Centro Médico Universitário em Durham, Carolina do Norte. Descobriram um aumento nos níveis de dopamina em pássaros canoros machos, no momento em que cantavam. Os níveis aumentavam especialmente quando cantavam para uma fêmea. Dopamina, reconhecida como o neurotransmissor do bem-estar, é importante para o aprendizado. Ainda não está claro o papel que desempenha nos pássaros canoros, diz Jarvis, mas suspeitamos de que sua função primária seja a de induzir um reforço na aprendizagem e sua função secundária pode ser a de criar uma sensação de euforia.

Improvisação Musical dos Chipanzés Pigmeus.

Bill Fields, do "Great Ape Trust", na cidade de Des Moines, no Estado de Iowa, concorda que não são apenas os humanos que se sentem bem com a música. Acompanhado de Sue Savage-Rumbaugh e outros, está envolvido em um projeto ainda em andamento que explora os gostos musicais e habilidades de linguagem treinada dos Chipanzés Pigmeus, incluindo o famoso Kanzi e a fêmea Panbanisha. Uma seção musical no Great Ape Trust geralmente envolve performances ao vivo de músicos locais, mas os animais já improvisaram com celebridades como Peter Gabriel e Paul MacCartney. Os chipanzés podem escolher entre instrumentos como xilofone, tamborim, gaita e maraca, mas geralmente se concentram em apenas um deles durante a seção – Panbanisha gosta dos teclados, enquanto que Kanzi prefere a bateria (apesar de gostar de tocar o piano, de uma maneira mais percussiva). O resultado é um trabalho cooperativo, envolvendo humanos e chipanzés em um vai-e-vem bastante emocionante. A cada vez que os primatas se dedicam às seções musicais, diz Fields, "eles mudam de fisionomia por dias a fio". A música parece relaxá-los.

Provavelmente a similitude entre esses macacos aculturados e nós humanos não seja tão surpreendente. Afinal, chipanzés pigmeus ou os chipanzés comuns possuem características biológicas semelhantes às nossas. Chipanzés podem não cantar como seus primos primatas, os macacos Gibões, tão famosamente fazem, mas Flitch acredita que as origens da instrumentação musical podem ser encontradas em seu comportamento na selva, onde eles regularmente batucam em objetos naturalmente ressonantes, como nas partes mais resistentes das árvores. Alguns pesquisadores até imaginam que, como as baleias, grupos de chipanzés possuem práticas culturais distintas em relação aos batuques e vocalizações.

Apesar de tudo isso, a visão tradicional relacionada à limitação da musicalidade dos animais ainda prevalece, e muitos especialistas conservam-se convencidos de que a musicalidade humana é única. Todavia, existem alguns sinais de que as coisas estão mudando. McDermott, Hauser e Fitch são unânimes em afirmar que os componentes musicais provavelmente se desenvolveram de maneiras diferentes em épocas diferentes – e é simplesmente no "onde" e "quando" que estes pesquisadores discordam. Eles também concordam que ainda há muito a ser descoberto sobre as similaridades e diferenças entre os humanos e outros animais. Peixes podem ser capazes de diferenciar a música barroca do blues, por exemplo, mas eles distinguem entre esses estilos musicais de maneiras semelhantes as nossas e, se assim for, como isso acontece?

Pelo menos para os macacos de McDermott, um mistério já foi resolvido. Dada a sua indiferença pela música, por que eles preferem as canções de ninar ao som do Techno? Suspeitando que essa preferência tenha maior relação com uma resposta genérica ao andamento da música do que um discernimento de estilo, McDermott e Hauser ofereceram a eles uma escolha entre uma trilha sonora de 60 batidas por minuto e uma de 400. Com toda a certeza, os macacos optaram pela faixa de andamento mais lento. No mundo natural, os pesquisadores apontam, uma seqüência rápida de sons freqüentemente acontece em situações negativas, como lutas e tempestades. Deste modo, mais uma vez, a faixa mais rápida poderia simplesmente sugerir o tum-tum-tum de um coração pulsando ferozmente.


Fonte: Revista New Scientist, vol. 197, nr. 2644 (23 de fevereiro de 2008), pp. 29-32


Artigo original disponível on-line em http://www.newscientist.com/channel/life/mg19726441.300-music-special-are-animals-naturally-musical.html

Tradução: Adrian Theodor (março/2008). Revisão: Levi de Paula Tavares.