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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Dinheiro real de mundos virtuais

Jogos de fantasia on-line movimentam comércio bilionário de troca de ouro virtual por moeda de verdade, sobretudo em países asiáticos
por Richard Heeks



Parece pergunta de um alquimista digital. Como transformar ouro virtual em real? Centenas de milhares de gold farmers (fazendeiros do ouro) em países em desenvolvimento já encontraram a lucrativa resposta. Hoje, eles são empreendedores que ganham a vida lucrando com jogos on-line. Ao assumir personagens de fantasia, matam monstros, mineram metais preciosos ou exercem atividades diversas para ganhar “ouro virtual”, que, em seguida, vendem a outros jogadores, na maioria de países ricos, por dinheiro do mundo real. Compradores e vendedores da moeda virtual usam esse ouro para determinar o destino dos personagens nos jogos de fantasia.

Na China, um gold farmer que vende dinheiro virtual pode ganhar um salário equivalente, ou até mais alto, que o de um montador de brinquedos que trabalha 12 horas por dia em uma fábrica. Assim, essa atividade, surgida há 10 anos, transformou-se numa engenhosa, embora controversa, maneira de as nações mais pobres ganharem dinheiro com tecnologia de informação e de comunicação, e também uma opção para trabalhadores pobres desenvolverem habilidades digitais que podem ser usufruídas posteriormente em outros empregos de TI, longe dos jogos on-line.

Em poucos anos, o gold farming se transformou em uma poderosa indústria. A melhor estimativa sugere que na Ásia, particularmente na China, onde está a maioria dos farmers: mais de 400 mil jogadores passam o dia acumulando ouro. O total anual de comércio em ouro virtual é de pelo menos US$ 1 bilhão. Estima-se que 10 milhões de jogadores em todo o mundo compram ouro ou serviços de gold farmers para avançar no jogo.

Antes praticamente invisível aos que não jogam, o gold farming agora interessa muito a economistas e sociólogos e é visto como um ponto de interseção onde ricos, pobres, o real e o virtual se cruzam. Nos últimos anos, acadêmicos e a mídia em geral desenvolveram um fascínio pela dinâmica de jogos que representam mundos minúsculos, movendo-se em velocidade acelerada – o destino de jogadores e grupos sofre ascensões e quedas em questão de dias e semanas, e não décadas ou séculos, como a vida humana
O gold farming aponta para um caminho de oportunidades para os países em desenvolvimento. Na medida em que as pessoas passam cada vez mais tempo de trabalho e de lazer on-line, a necessidade de serviços virtuais – sob o pretexto de cyberwork – só irá crescer. Futuros levantamentos a respeito do gold farming vão nos mostrar como o comércio internacional e a internet podem estimular atividades empresariais.

Mas também levantarão questões difíceis. A China e outros países em desenvolvimento devem apoiar o gold farming como forma de ampliar suas exportações e empregos? Os gold farmers conseguirão migrar para empregos de TI de maior qualificação? O gold farming oferece um modelo para novas formas de desenvolvimento econômico? Qual outros tipos de cyberwork podem surgir? São muitas perguntas para os cientistas sociais, mas todas servem como um lembrete de que as comunicações de banda larga darão aos países mais pobres um papel fundamental na emergente economia digital.

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