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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Motown - A Lenda Negra (por Nelson Motta)



Imagine um mundo sem Stevie Wonder, Michael Jackson (e o Jackson 5), Diana Ross e as Supremes, Marvin Gaye, Lionel Ritchie, Martha Reeves and the Vandellas, Temptations, Four Tops, Commodores, Smokey Robinson...

Você imaginou um mundo sem Berry Gordy?

Isto mesmo. Sem esse genial crioulo de Detroit, criador da Motown, muito da beleza e alegria do mundo nos últimos 20 anos não teria existido. Agora, já coroa, riquíssimo (vendeu a Motown por 62 milhões de dólares), cansado de guerra, Berry Gordy resolveu contar tudo em sua autobiografia “To Be Loved” (Warner Books, $ 22.95) e o livro é uma festa.

Tudo começou da maneira mais improvável (com 800 dólares emprestados de uma “caixinha” da família), no lugar menos favorável (Detroit, cidade industrial feia e triste, sem tradição musical) e num tempo em que a música negra era completamente segregada. Mesmo assim, depois de muita luta, muito trabalho, muita sorte e intuição genial de Gordy e sua turma, tudo deu certo e hoje é impossível falar de música popular no século 20 sem dedicar um grande e reverente espaço a Motown, seus artistas e suas músicas maravilhosas. Mais do que uma gravadora, a Motown representa um estilo, uma maneira de fazer e viver a música que influenciou decisivamente a melhor música popular americana dos anos 60/80, ou seja, a melhor música popular do mundo. Mais do que isto, a Motown representa o maior triunfo da negritude no mundo branco neste século.

Todos, todos os melhores, especialmente brancos (como os Beatles e os Rolling Stones) beberam farta e alegremente nas torrenciais fontes da Motown, que estabeleceu novos padrões de criação e produção, novas idéias e conceitos, novos horizontes para a música (e a cultura) negra nos Estados Unidos e no mundo. Graças ao talento, audácia e competência de um crioulo folgado e atrevido, trabalhador e criativo, com sua capacidade de aglutinar e comandar um exército de cantores, compositores, músicos, produtores (e vendedores, marketeiros, publicitários, promotores, divulgadores) com mão de ferro e coração de manteiga. Berry Gordy, num tempo em que a música negra era confinada aos guetos e banida das radios brancas, arrebentou com tudo e levou-a aos melhores palcos, dignificou-a, engrandeceu-a e - por pressão popular - fez dela estrela de rádios, televisões, jornais e revistas de todas as cores, estilos e gerações. A Motown foi não só a maior e melhor gravadora independente da história do disco, deasafiando, confrontando e derrotando as “majors”, as grandes corporações (e no final pagando - caro - o preço de sua audácia), mas principalmente a mais poderosa e bem sucedida empresa negra da história dos Estados Unidos, e tanto que, no final dos anos 80, já sem seus principais artistas, devorados pela concorrencia, pressionado por credores por todos os lados, Gordy decide - como unica solução - vender a Motown, tem ainda que enfrentar as pressões de todas as lideranças e associações negras americanas, que não se conformam com a venda de um “patrimonio da raça”.

Através da riquissíma história pessoal de Berry Gordy, seus sonhos, realizações e desastres - que, entre outras façanhas invejáveis, foi casado com Diana Ross e outras beldades - aprende-se muito sobre a história da cultura negra nos Estados Unidos, através da música que fez gerações cantar, dançar e fazer amor no mundo inteiro, quebrando barreiras raciais e culturais e estabelecendo um novo padrão de qualidade para a musica popular do planeta.

E o mais engraçado é que Gordy diz que baseou seu estilo e método de produção artística nas linhas de montagem da Ford, onde foi operário nos anos 50, de onde saiu para montar, num barracão de Detroit, um estudiozinho de dois canais que, atrevidamente, chamou de Hitsville USA e onde nasceram os maiores sucessos populares das últimas décadas.

1 comentários:

Anônimo disse...

amei esse texto. quero ser como eles