Ulisses Capozzoli
Anúncios terroristas de que o fim do mundo chega em 2012, fiel a uma pretensa profecia maia, assustam estupidamente as pessoas. Como se não bastassem as preocupações que elas já têm com problemas que vão do pagamento de dívidas, dificuldades com saúde, segurança e um conjunto de outros sobressaltos cotidianos.
Que oportunistas possam ganhar dinheiro dessa maneira, da mesma forma que “pastores” saqueiam incautos em programas chorosos na TV, é um abuso que deveria ser tratado como caso de polícia.
Mas estamos longe disso.
Quanto custa, do ponto de vista psíquico, inquietudes como essa tolice de que não passaremos de 2012?
Pessoas razoáveis, submetidas a um conjunto de fenômenos isoladamente prováveis, mas que deixam de fazer sentido se tomados em conjunto, caem na armadilha dos perversos e se deixam levar pelo sentimento do fim de tudo.
Razoável considerar que o momento histórico que atravessamos sugira coisas desse tipo. O que não deixa de ser lamentável. Há banalização até com o fim do mundo, coisa que aterrorizaria apóstolos pessimistas e provocadores como Orson Welles.
A história não só não acabou, como previa a tese insustentável (ainda que comemorada por aqui, à época em que Francis Fukuyama apresentou-a no contexto da pós-modernidade) como deve perdurar até que o último homem desapareça. E nada sugere que isso possa ser previsto com a obviedade sugerida pelo terrorismo de plantão.
No contexto recente houve quem imaginasse que um buraco negro produzido pelas mãos do homem (o colisor de hádrons que retomou recentemente suas operações) engoliria a Terra como um urso faminto.
Depois veio a tese repetitiva da aproximação de Marte (que ficaria do tamanho da lua cheia no céu).
Agora repete-se à exaustão, com filmes, documentários e teses estapafúrdias, que os maias previram as ocorrências finais.
Um alinhamento do Sol com o centro da Galáxia seria uma possibilidade. Nessa posição, o Sol explodiria como uma gigantesca bomba atômica, o que, de fato essa estrela é.
Mas o Sol explode há bilhões de anos e se um dia engolfará toda a Terra, essa data está muito longe de nós. Algo como alguns bilhões de anos nos cenários considerados pelos astrofísicos.
Portanto, durma em paz, pague suas contas e se preocupe em não fazer outras, especialmente com cheque especial. Neste caso, a taxa de juros é realmente coisa de fim de história, mas apenas para quem cair na armadilha dos bancos.
Também não perca muito tempo pensando no choque de cometas ou asteróides com a Terra. Até porque, se isso acontecer, será tudo rápido e sumário. Morremos coletivamente e ninguém terá motivos para se queixar da solidão de partir só.
Vulcanismo e tremores de terra também são invocados num cataclismo imaginado como único e que promete não deixar pedra sobre pedra.
Vulcanismo e sismos, no entanto, são decorrências do fato de a Terra estar geologicamente vivas e exatamente por isso estamos aqui.
Pode estar chegando a época em que Carl Sagan previu da criação de religiões com base em conceitos científicos, mas intenções aterrorizantes, exploradoras da boa fé e do sofrimento alheio. Uma época sem qualquer afeto, generosidade, compaixão e traços elementares de humanidade.
Tudo em nome do dinheiro.
"A racionalidade humana realmente é de natureza controvertida."
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