Mais novo modelo de carro elétrico chama a atenção pela potência e tecnologia - sem soltar nenhuma fumaça
Texto Luís Indriúnas
Andar de carro elétrico sempre pareceu algo meio estranho. Primeiro, porque esse tipo de carro lembra aquelas invenções de cientista maluco – tipo o do filme De Volta para o Futuro. Segundo, porque os modelos que apareceram até agora não eram lá muito práticos: eles andavam pouco e ainda por cima tinham que ser reabastecidos (na tomada) toda hora.
Pois esse cenário é coisa do passado. O Roadster Car, este carro que você vê aqui ao lado, é uma verdadeira potência. Ele consegue chegar a 100 km/h em 4 segundos. Ou seja: chega bem na frente de carros como o Porsche, por exemplo. E isso com câmbio automático. É econômico, gasta metade que outros carros esportivos. Tem um sistema de segurança para evitar curto-circuito. Conta com um design esportivo, um interior luxuoso. E o melhor: faz tudo isso em silêncio, sem soltar fumaça, apenas ar quente. E bastante puro, por sinal.
Esse fenômeno ecológico e tecnológico é o mais novo representante do carro elétrico e deve começar a circular nas ruas dos EUA no ano que vem, diz o fabricante, Tesla Motors. Mas, por enquanto, será para poucos. Custa a bagatela de US$ 100 mil. Mesmo assim, já é um sucesso de vendas. Ele ainda não saiu da fase de testes e já tem 600 vendidos. Os primeiros devem ser entregues no 1o semestre de 2008.
Uma idéia das antigas
O carro elétrico propriamente dito é uma idéia tão manjada quanto o carro a gasolina. É só se lembrar dos bondes elétricos do início do século passado. Nova York chegou a ter 90% dos seus táxis movidos a bateria. Mas a explosão e o ronco dos motores a gasolina acabaram prevalecendo. Uma das razões seria uma questão de marketing, já que o homem pós Revolução Industrial, deslumbrado com o progresso, queria um carro feroz – e o carro elétrico, com seu motor silencioso, parecia um tanto “feminino”. Outra razão, essa mais séria e provavelmente mais forte, seria o lobby da emergente e até hoje poderosa indústria petrolífera. É o que afirma o jornalista americano Edwin Black no livro Internal Combustion (“Combustão Interna”, sem edição em português). Assim, quanto mais avançava a Revolução Industrial, mais a tecnologia se voltava para os motores fumacentos movidos a gasolina.
Aos poucos, a opção do carro elétrico sumiu. E só retornou nos últimos anos, muito mais graças às preocupações ecológicas do que por causa de seu desempenho, uma vez que continuava com os velhos problemas. No final do século passado, a General Motors lançou o seu primeiro carro elétrico, o EV1, que acabou sendo enterrado com direito a cerimônia fúnebre 10 anos depois do seu lançamento (veja quadro na página ao lado).
Mesmo antes da morte do EV1, as indústrias automobilísticas já optavam pelos modelos híbridos que usam tanto a tecnologia do motor a gasolina quanto do carro elétrico, tentando aproveitar o que há de bom nos dois modelos. Ou seja, o bom desempenho e autonomia do carro a combustível com parte da economia e principalmente o baixo impacto ambiental dos carros elétricos.
Cavalo que voa
No que diz respeito aos carros totalmente elétricos, algumas das maiores críticas atuais são em relação ao pouco desempenho e à pouca autonomia. Isso significa que, além de andar em velocidades muito mais baixas, os elétricos tinham que ser reabastecidos por muitas horas e a cada 100 quilômetros rodados. Ou seja: era preciso reabastecer em uma ida de São Paulo a Campinas, por exemplo. Um carro popular a gasolina pode rodar cerca de 400 quilômetros sem precisar parar no posto para ser reabastecido.
O Roadster, que significa “cavalo estradeiro”, promete acabar com esses temores. Ele corre a até 209 km/h e seu motor de arranque dá inveja a qualquer carro que precisa que o combustível chegue até o motor. É só pensar na velocidade de uma torneira sendo aberta e uma lâmpada sendo acesa. Enquanto uma rapidamente deixa a água correr, a outra é praticamente instantânea.
Quanto à autonomia, ele consegue percorrer 400 quilômetros sem ter que ir para a tomada. O antigo modelo da GM conseguia cerca de 100 quilômetros sem ter que abastecer as baterias, que levavam uma noite inteira para ser carregadas. Já o Roadster consegue o mesmo com cerca de 3 horas e meia. Esse desempenho é possível graças ao uso das baterias de íon-lítio, as mesmas adotadas nos laptops.
Além das baterias, que seriam o pulmão do Roadster, o coração do carro é um motor de 3 fases. Sua aceleração é controlada por equipamentos que evitam aumentos bruscos de velocidade, já que uma pisada mais funda no pedal poderia aumentar muito rapidamente a velocidade e provocar um acidente, graças à delicada aceleração do Roadster. Um sistema de resfriamento ajuda a evitar altas temperaturas no carro, levando para o escapamento o ar quente.
O Roadster prima ainda pelo capricho nos detalhes, contando itens inusitados como bancos que podem ser aquecidos em dias frios, freios ABS e duplo air bag. Um sistema de segurança faz com que o carro não dê partida enquanto o motorista não colocar o cinto e um programa de radiofreqüência possibilita a abertura automática das portas da garagem.
Uma montadora diferente
Por trás do projeto do Roadster, está a história da Tesla Motors. Ela não é uma típica indústria automobilística. Primeiro, não tem sua sede na tradicional área da indústria de carros dos EUA: Detroit. Fica no Vale do Silício. Seu proprietário, Martin Eberhard, não tem nenhuma passagem anterior pelo ramo.
Além disso, o nome da empresa é uma homenagem a Nikola Tesla, um engenheiro dedicado às teorias elétricas. Recatado, acabou morrendo pobre e praticamente desconhecido. Ele foi o responsável pela descoberta do sistema trifásico, muito usado atualmente nas centrais elétricas do mundo todo.
Com um aporte de cerca de US$ 100 milhões de um fundo de investimento, a Tesla Motors tem entre seus financiadores empresas de e-commerce e outras do setor de informática. Ela conta também com uma parceria com a inglesa Lotus. Por isso, o Roadster tem muito dos carros da Lotus, com o chassi e o sistema de freios bem semelhantes.
Agora só resta saber se a empresa, com toda essa gama de novidades, conseguirá se consolidar e, da mesma forma, consolidar o carro elétrico. Que o terreno é fértil, não há dúvidas. Principalmente para quem não quer abrir mão de potência, conforto e tecnologia. Tudo junto, para ajudar a salvar o planeta.
Carro elétrico é um bom negócio?
Os críticos da indústria automobilística dizem que as montadoras não se interessariam em desenvolver carros elétricos, entre outros motivos, por estarem acostumadas ao padrão dos carros a combustível, preferindo assim procurar diferentes tecnologias para combustíveis alternativos como o biodiesel e o etanol.
Na verdade, há uma sinuca de bico no mercado. O carro elétrico pode ser uma opção saudável para grandes cidades. No entanto, cientistas dizem que as alternativas energéticas podem também não ser tão legais assim. Um carro elétrico pressupõe o uso de energia vinda de várias fontes diferentes como hidrelétricas ou termoelétricas, todas contribuintes do efeito estufa. O desafio agora é encontrar formas alternativas de geração de energia – para que o carro elétrico possa passear por aí sem ser mais um vilão do aquecimento global.
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