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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Conversando: Professor Luca Moriconi

Olá pessoal,

Pedimos desculpas pelo site estar sem atualizações, mas, estaremos retomando nossas atividades.

Bem, nosso mais novo conversando é com o professor que eu tive o privilégio de ter aula, professor Luca Moriconi.

Graduado (1987) e pós-graduado (1990, 1993) em Física pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; Professor Associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Área de pesquisa: Teoria de Campos / Mecânica Estatística e suas aplicações à Matéria Condensada e Turbulência.
Esquerda para direita: Denison de Souza Santos, Lygia da Veiga Pereira, Fábio Reis e Luca Moriconi. (Formandos de Física pela PUC)


Possui um forte currículo:



1995 - 1997 Pós-Doutorado .
Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Brasil.
Bolsista do(a): Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico ,CNPq ,Brasil .
Grande área: Ciências Exatas e da Terra / Área: Física / Subárea: Física das Partículas Elementares e Campos.
1993 - 1995 Pós-Doutorado .
Universidade de Princeton.
Bolsista do(a): Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico ,CNPq ,Brasil .
Grande área: Ciências Exatas e da Terra / Área: Física / Subárea: Física das Partículas Elementares e Campos.
1990 - 1993 Doutorado em Física (Conceito CAPES 5) .
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio, Brasil.
Título: Abordagem de Teoria de Campos ao Efeito Hall Quântico, Ano de Obtenção: 1993.
Orientador: Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho.
Bolsista do(a): Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior ,CAPES ,Brasil .
1988 - 1990 Mestrado em Física (Conceito CAPES 5) .
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio, Brasil.
Título: Idéias Topológicas no Efeito Hall Quântico Inteiro, Ano de Obtenção: 1990.
Orientador: Juan Jose Giambiagi.
Bolsista do(a): Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico ,CNPq ,Brasil .
1984 - 1987 Graduação .
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio, Brasil.
Esta é uma entrevista exclusiva do blog Clave de Pi. Todos os direitos reservados. Se alguém quiser postar em outros sites nos avise.



Vamos ao que interessa:



Professor Luca Moriconi, o senhor participa ou já participou de projetos de níveis internacionais? Quais?

Participei/participo de projetos na Argentina e Inglaterra-Israel.
Nesse momento minha atividade internacional esta focada
no ICTP, Centro Internacional de Física Teorica em Trieste,
norte da Itália.
Quando o senhor despertou seu interesse pela Física ?

Por volta dos 10-11 anos de idade. Antes disso me encantava folhear
uma enciclopédia cheia de belas figuras que ganhei dos meus pais
aos 8 anos. Nessa época também ganhei um microscópio e uma luneta
pequena que se tornaram minhas amigas inseparáveis. Aos 11 anos li uma
vida-e-obra extremamente resumida, mas muito bem escrita, sobre Einstein
e a teoria da relatividade, e um novo mundo se abriu para mim.
Foi uma revelação!


O que foi mais difícil: Graduação, Mestrado, Doutorado ou Pós-doutorado?
No meu caso, as dificuldades associadas a cada um desses períodos variou em grau e natureza. Assim, pode ser dificil comparar. Mas para nao deixar de responder, digamos que a transição graduação/pós-graduação foi a que me apresentou alguma carga de dificuldade maior. No caso da graduação eu já vinha embalado do ensino medio por ter estudado auto-didaticamente um pouco de calculo integral. Na passagem para a pós,
as dificuldades nao foram tao tecnicas quanto conceituais. É o momento onde você entra em contato com a fronteira do conhecimento, onde você amadurece como pesquisador.
O que é a Física para o senhor?

Gosto de definir a Física como um ramo da filosofia natural. Newton chamou sua obra de "Principios Matematicos da Filosofia Natural". Ele por sua vez estava inspirado em Galileo - aquele que escreveu que a natureza é um livro escrito em caracteres matemáticos. Generalizando um pouco mais, penso que o estudo de fenômenos regulares passíveis de tratamento matemático, sejam eles quais forem, formam o bojo da Física --  hoje em dia, por exemplo, escutamos falar em "socioFísica"  e "econoFísica". Estou de acordo com essas denominações (mas nem todos os concordam). Acredito que Física seja algo que vá muito além da definição da "ciência que estuda a natureza e a dinâmica da matéria inanimada". O paradigma essencial da Física consiste, ao meu ver, na modelagem matemática dos estados que caracterizam (parcialmente ou não) um determinado sistema, seja esse um sistema natural, biológico ou social. Existem dois aspectos importantes aqui:
1. Numa ponta o problema é implementar a modelagem em si. Observo uma pedrinha caindo, e daí? Comecamos a fazer Física quando definimos um estado desse sistema como a altura h da pedra em relação a algum nivel de referência e procuro entender como reproduzir a evolução no tempo dessa variavel (observe que o tempo é outra variavel importante!) . Introduzo leis que me dizem que tipos de estados são possiveis, que tipos de influências externas ao sistema devem ser evitadas, e como esses estados transicionam entre si no tempo;
2. Na outra ponta, temos já alguma segura em relação as definições de estado e em relação as leis matemáticas de evolução temporal; Física passa a ser entao um quebra-cabeças. Os desafios são técnicos, mais do que conceituais.
Qual é a sua área de pesquisa atualmente?

Física estatistica: turbulência, translocação de polímeros, transporte
eletrônico.
Segundo o senhor, qual o maior físico que já existiu?

Dependendo do significado de "maior" na pergunta, posso citar
Galileo Galilei, Newton e Einstein.

Muitas pessoas têm dúvidas se realmente vale a pena seguir a carreira
acadêmica, principalmente na área da Física no Brasil. Como é a vida
acadêmica no Brasil? Quais são as principais dificuldades encontradas?

A vida academica no Brasil acompanha o padrao internacional. Não estamos
isolados. O financiamento a pesquisa tem melhorado bastante, mas ainda
há muito a se fazer. Aponto como dificuldades principais:

* centralização excessiva das agências de fomento (acredite: somos mais
centralizadores em alguns aspectos do que a China);
* sistema de avaliação acadêmica baseado essencialmente na quantidade,
mais do que na qualidade, conduzindo a uma certa elitização anti-produtiva
do ambiente cientifico;
* infra-estrutura rudimentar de muitos institutos, muitas vezes coexistindo
paradoxalmente com grupos extremamente bem servidos de financiamento;
* pouco acoplamento industria-academia.
Temos visto muitos debates sobre o novo ramo da Física que tenta encontrar uma teoria unificada. Uma das Teorias, conhecida como Teoria das cordas, tenta explicar o mundo com 10 dimensões. O que o senhor pode-nos dizer sobre a Teoria das cordas, e o senhor acha realmente possível uma teoria unificada capaz de explicar o macro e o micro universo?

O problema concreto e mais importante, creio, é o de adaptar a teoria da gravitação de Einstein ao formalismo da mecanica quântica. Isto é algo mais simples do que unificar as interações e ainda assim um problema aberto. Mesmo na ausencia de gravidade, as interações não são modeladas de forma unificada; a força nuclear forte é "colada"  à força eletro-fraca. A teoria de cordas, que deveria se chamar mais precisamente de "modelo de cordas", pretende resolver todos esses problemas de uma tacada só. Muitos avanços e resultados interessantes têm sido realizados nos últimos anos. Entretanto, o mais elementar dos problemas, o de como as 10 dimensoes são naturalmente compactadas nas 4 dimensoes comumente observadas, é terra completamente incógnita. Uma olhada na história recente da Física dos ultimos 100 anos, extremamente bem documentada, nos mostra que a experimentação desempenha um papel absolutamente fundamental no estabelecimento de todas as teorias atuais e preciosas da Física. As tentativas de unificação via teoria de cordas esbarram constantemente nesse problema epistemologico: como experimentar a Física da escala de Planck? (a escala de unificação). Pode-se responder assim: ok, imagine alguma coisa na escala de Planck e produza predicoes para as nossas escalas corriqueiras de experimentação! Porém, temos boas razões para acreditar que este tipo de procedimento não é de grande utilidade eurística -- muitas teorias seriam igualmente viáveis.
Acho interessante e desejável a busca por uma teoria unificada, mas isso é uma questao de fé, maior ainda do que a fé científica na cognoscibilidade do mundo.
O que o senhor acha do ensino da Física no Brasil?

É de bom nivel. Os estudantes brasileiros destacam-se no exterior.
Não quer dizer que não devemos melhorar. Temos problemas sérios,
principalmente relacionados ao ensino de disciplinas experimentais.
Como um físico enxerga o mundo?

O físico do dia-a-dia tende a ser uma pessoa normal, pontilhado talvez
por alguns momentos caricaturais de cientificismo da vida.
Quando ando de bicicleta ou nado não penso em vetores ou na viscosidade
da água. Existem físicos que vão a missa com regularidade; outros que se
declaram ateus; físicos de direita ou de esqueda; flamenguistas e vascainos
(ou tricolores como eu)... Não creio que físicos tenham "olhos de raio-x" e vejam transições atômicas especiais durante um pôr-do-sol. Conheci um físico que me disse
uma vez não saberia como ver o mundo se não fosse fisico. Nunca entendi
exatamente o que ele quis dizer com isso. Acho que uma visão de mundo deve conter elementos diversos, entre os quais idéias científicas, mas que não sao privilégio de especialistas
(é ai que a pratica da divulgação cientifica se torna importante).
Essa é uma posição que está muito bem colocada no livro
"Evolução da Física" de Einstein e Infeld.
Quais livros os senhor indica para que se interessou pela sua linha de
pesquisa?

Um livro muito bom de divulgação, semi-técnico, e relacionado a Turbulência
e Física Estatística é  "The Almight Chance", de autoria dos russos
Zeldovich, Ruzmaikin e Sokoloff .
Neste link: http://www.worldscibooks.com/physics/0862.html
 
Quais são seus futuros projetos como físico?

Continuar os projetos atuais (risos).
Mais seriamente, pretendo intensificar minha colaboração com
o grupo da COPPE de turbulência. Há um novo instituto do qual
faço parte, chamado de Nucleo Interdisciplinar de Dinâmica de Fluidos.
Ali a experiencia e a teoria andam juntas, com a possibilidade de aplicações
concretas em problemas industriais.

Além da sua linha de pesquisa, quais outros ramos da Físca lhe chama
atenção?

Gosto de acompanhar o que vem se fazendo em Física de altas energias, cosmologia e
informação quantica. Eventualmente leio algum artigo nessas áreas, de carater
mais divulgativo do que propriamente de pesquisa.
 

Qual mensagem o senhor deixa para todos que desejam ser Físicos, mas, têm
certo receio de não serem bem sucedidos?

Acredite que você pode e trabalhe com afinco - incomode colegas e professores com perguntas e longas discussões, bagunce os livros da biblioteca, questione o que você
acha estranho e mude ou não de opinao. Antes do que você imagina, já estará engajado
em projetos interessantes e em posição de oferecer uma contribuição como cientista.

Agradecemos o professor Luca Moriconi pela entrevista e esperamos que ela seja de grande valia para a vida de todos você que acessam nosso site.

Obrigado!

Clave de Pi - "O conhecimento é a harmonia da vida."





4 comentários:

gdcsales disse...

Muito interessantes, a entrevista e as respostas!

O Variado disse...

Poxa, bela entrevista. É muito interessante poder ler sobre como andam as coisas atualmente no meio científico, e nada melhor do que falar com alguém que está dentro desse meio. Ótima postagem.

Heitor Guimarães disse...

Muito legal a entrevista, a Equipe do Clave de Pi está de parabéns.
Imagino como a vida de universitários deve ser complicada, mas por favor, não deixem o Blog sem atualizações. =D
Já estava me sentindo mal por não ler uma matéria de vocês, rsrs'.
Só por curiosidade, quem fez esta entrevista? Vitor Chagas?
Vi que o Dr. Luca Moriconi é professor Associado da UFRJ... Você está cursando Física nesta universidade?
Mesmo que não esteja, como é a vida de um estudante de Física? Você acha que a realidade para o ramo das Pesquisas é como dizem aqui "fora"?
Sei que essa foi uma das suas perguntas nesta entrevista, mas queria a opinião de um estudante que está entrando agora no ramo ( não que a de quem já está não seja importante,mas acho que para quem já está trabalhando como pesquisador é diferente).

Abraços.

Clave de Pi disse...

Olá Heitor,
A vida de universitário é complicada mesmo, principalmente no que diz respeito ao tempo. Fique tranquilo, vamos tentar atualizar com mais frequência, mas não podemos prometer nada (risos). Bom saber que alguém sente falta dos nossos posts, rs.
Quem fez a entrevista foi o Jhonatas, mas quem vos escreve agora é o Vitor Chagas...
Eu curso física na UFF - Universidade Federal Fluminense.
Um estudante de física é um estudante como qualquer outro. Nossa vida (ou pelo menos a minha) resume-se basicamente a estudar. Se pretende fazer física, entenda que dedicação é a palavra chave. Existem muitos mitos sobre a Pesquisa. Eu mesmo tinha muitas dúvidas quanto a isso. Bem, os investimentos nessa área tem crescido bastante, mas ainda são pequenos se comparados a países como EUA, por exemplo. No entanto, já não é tão dificil quanto foi um dia, trabalhar como pesquisador. Muitos concursos tem sido abertos para professor universitário e pesquisador. Acho que nunca houve tanta oportunidade para pesquisadores, principalmente em áreas como física de materiais. Entenda que no Brasil os centros de pesquisa são dentro das universidades (pelo menos os que eu tenho notícias), portanto, para trabalhar como pesquisador você necessariamente trabalhará numa universidade.
Espero ter ajudado.
Abraços,
Vitor.