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quarta-feira, 3 de março de 2010

É possível aprender física com histórias em quadrinhos?


Professor utiliza super-heróis para motivar seus alunos a entenderem questões científicas
por Robin Lloyd

Jim Kakalios: nerds e geeks melhoram sua imagem
Não se aprende muita física assistindo a filmes de ficção científica ou shows de TV. Mas ler um antigo livro de histórias em quadrinhos ou frequentar o seminário “Física de Super-heróis”, de Jim Kakalios, na University of Minnesota, pode inspirá-lo a entender se Flash (personagem da DC Comics) consumiria todo o oxigênio da Terra se corresse quase à velocidade da luz.

Histórias em quadrinhos frequentemente acertam sua física”, declarou Kakalios durante sessão de “Ciência de Super-heróis”, no encontro anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência, realizado na semana passada. “Pelo menos uma vez que se aceite uma premissa inicial impossível, como a ideia de que um homem é capaz de voar como um morcego, ou é mais veloz que um projétil disparado”, acrescentou.

Em 2001, Kakalios deu seu primeiro seminário sobre a física dos super-heróis, para calouros, em uma tentativa de estimular seus alunos. Agora, é possível comprar seu livro sobre o assunto.

O truque é transmitir a ciência sem simplificá-la excessivamente, nem entediar sua audiência, disse ele. Explicações diretas da física geralmente intimidam uma pessoa leiga a fazer perguntas. “Ela pensa que não entende [a física] porque não é suficientemente inteligente”, declarou Kakalios. Mas se professores e cientistas falam em Homem-Aranha ou Super-Homem, os leigos tendem a perguntar e podem até se lembrar de alguns princípios de mecânica quântica ou da Segunda Lei de Newton.

Um dos alunos de Kakalios calculou que Flash levaria vários milhões de anos para consumir todas as moléculas de oxigênio existentes da atmosfera da Terra, se corresse quase à velocidade da luz.

Os epítetos, antes dolorosos e depreciativos, de “nerd” e “geek” (pessoa chata, incomum e impopular) estão perdendo as conotações negativas, afirmou Kakalios, e acrescentou não acreditar que os americanos sejam anti-intelectuais. “Ninguém quer um neurocirurgião burro. Ninguém quer um mecânico idiota. Você quer as pessoas mais qualificadas e inteligentes que puder ter”, frisou, embora acrescentasse que os americanos também detestam os esnobes e a condescendência.

Professores têm o dever de ensinar ciências às massas curiosas de um modo que as pessoas consigam entender, declarou.

No início da sessão, Sidney Perkowitz, da Emory University, conferiu a filmes de ficção científica notas variadas por sua precisão científica e informação, ao discorrer sobre os resultados de sua análise de 120 filmes (detalhados em seu livro “Hollywood Science”, de 2007). A maioria começa com uma migalha de ciência real, mas “eles simplesmente nem sempre tratam a ciência muito bem, para dizer o mínimo”, declarou ele. E os cientistas frequentemente são estereotipados como lunáticos ou loucos.

O pior filme de ficção científica em termos de ciência? “O Núcleo – Missão ao Centro da Terra” (“The Core”), julgou ele. “Lunar” (“Moon”) é melhor. E “Abandonados” (“Marooned”) foi recomendado por Kakalios.

Joe Pokaski, roteirista do seriado “Heroes”, da NBC, em que pessoas comuns, do cotidiano, descobrem e lidam com a aquisição de superpoderes, disse que nas sessões de redação, os autores do filme mantêm acalorados e intensos debates sobre tópicos como a invisibilidade, mas a realidade é que contar uma história tem de suplantar a ciência. “Nós de fato abastardamos termos científicos a um ponto que é realmente chocante”.

Para escritores de ficção científica, as metas são autenticidade e fazer com que os espectadores se preocupem com os personagens, muito mais que uma ciência totalmente precisa, declarou Alex Tse, roteirista de “Watchmen”.

Eu não entendo a mínima de ciências”, confessou Tse. “Provavelmente sou a pessoa menos qualificada para estar nessa discussão. A razão pela qual eu quis vir para cá é que, se você for ver o trabalho que tento realizar e as coisas que aspiro fazer, existe uma plausibilidade na ciência. Para mim, pelo menos, ela acrescenta uma qualidade eterna a um filme: faz com que ele tenha um efeito duradouro. Existem alguns filmes que são meio ridículos. Eles são divertidos para assistir, mas não têm um efeito durador em mim.”
 
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